sábado, 6 de dezembro de 2008

Um sorriso no céu



“Sorriso no céu”

Fotos de Mike Salway do céu de 5 de dezembro de 2008 (Austrália)

Júpiter, Vênus e Lua, se afastando da conjunção no dia 1 em Capricórnio, “desenham” a qualidade desse feliz encontro. A forma definida, no alto, é uma visível representação das virtudes desse signo, contrapondo e vencendo a sua conhecida melancolia. 

P.S. No dia da foto, a Lua já em Peixes, passava por coincidência (só agora é que notei!) no grau do meu Sol.  :)  

 

ENTRE A ARTE E A CIÊNCIA



Pensando sobre o corpo teórico da astrologia e as implicações ao defini-la como uma ciência, por exemplo, vejo que é inevitável uma abordagem psicológica. Enquanto arte, com seus símbolos e mitos, ela caminha livre há milênios! Sobre essa interlocução, encontro sempre nos textos de JUNG um entendimento confortante, luminoso e “numinoso”. Por isso, transcrevo aqui alguns trechos de seu livro.*

“A imagem primordial, ou arquétipo, é uma figura – seja ela demônio, ser humano ou processo – que reaparece no decorrer da história, sempre que a imaginação criativa for livremente expressa. É portanto, em primeiro lugar, uma figura mitológica.”(p.69)

“...Quem fala através de imagens primordiais, fala como se tivesse mil vozes; comove e subjuga, elevando simultaneamente aquilo que qualifica de único e efêmero na esfera do contínuo devir, eleva o destino pessoal ao destino da humanidade e com isso também solta em nós todas aquelas forças benéficas que desde sempre possibilitaram a humanidade salvar-se de todos os perigos e também sobreviver à longa noite.”(p.70)

“Este é o segredo da ação da arte. O processo criativo consiste (até onde nos é dado segui-lo) numa ativação inconsciente do arquétipo e numa elaboração e formalização na obra acabada. De certo modo a formação da imagem primordial é a transcrição para a linguagem do presente pelo artista, dando novamente a cada um a possibilidade de encontrar o acesso às fontes mais profundas da vida que, de outro modo, lhe seria negado. É aí que está o significado social da obra de arte: ela trabalha continuamente na educação do espírito da época, pois traz à tona aquelas formas das quais a época mais necessita.” (p.71)

Para mim, fica cada vez mais claro que astrologia é a expressão (como arte) e o registro (como ciência) da percepção do horizonte. Como ilustração, achei pertinente inserir este meu trabalho para a faculdade (foto):

“PERSPECTIVAS DO IMAGINÁRIO

As imagens pictóricas externas, bidimensionais, são registros da visualização espacial dos objetos ocultos no interior do cubo (os arquétipos).

A memória da forma inspira o gesto, que livre, escolhe o percurso do seu contorno."

Sendo artista plástica e astróloga, estou sempre “na corda bamba” da discriminação: pessoal X profissional, individual X coletivo, etc. Confesso a minha dificuldade em lidar com as minhas paixões e, ao mesmo tempo, manter a tal “ataraxia” necessária para ser um astrólogo. Mas, assim é. A minha sobrevivência depende desse equilíbrio. JUNG ao falar sobre o sentido e significação da obra de arte, levanta a seguinte dúvida: será que a arte realmente “significa”? Esclarece logo em seguida, ser esta uma pergunta de uma cientista, nada tendo a ver com a arte. Ao analisar e delimitar os dois campos (arte e ciência), ele entende o complexo criativo como autônomo, independente do arbítrio da consciência. Vejo que não só eu, mas todo astrólogo vivencia esse “balanço da corda”. Ele cria quando interpreta, mas precisa de uma linguagem que faça “sentido” para expressar-se. E é daí, onde “mora o perigo”, que advem o seu talento.

“...Enquanto estivermos presos ao próprio criativo, não vemos nem entendemos, e nem devemos entender, pois nada é mais nocivo e perigoso para a vivência imediata do que o conhecimento. Para o conhecimento, porém, devemos deslocar-nos para fora do processo criativo e olhá-lo desse lado, pois só então ele se tornará imagem que exprime um sentido. ...Desta forma, ficam garantidos os requisitos da ciência.”(p.66-67)

*JUNG, C. G. O espírito na arte e na ciência, Trad. M. M. Barros, RJ, Vozes, 1985, Col. Obras Completas de C. G. Jung, Vol. XV